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Projeto propõe novo financiamento para sistema de transporte em Porto Alegre

Projeto propõe novo financiamento para sistema de transporte em Porto Alegre


Pacote de medidas prevê novas receitas para barateamento de passagens e passe livre para trabalhadores com carteira assinada


Na contramão dos reajustes das tarifas de transporte público comuns neste período do ano em todo o Brasil, a prefeitura de Porto Alegre/RS anunciou nessa segunda-feira, 27, um pacote de medidas para diminuir o valor das passagens de ônibus dos atuais R$ 4,70 para até menos de R$ 1. As mudanças propostas, embora não sejam inéditas, são tão radicais quanto polêmicas e tentam responder à necessidade do atual cenário de mobilidade urbana no país, que beira o colapso em todos os seus aspectos.

O rearranjo para redução do tarifário foi enviado à Câmara de Vereadores na forma de cinco projetos de lei, com pedido de urgência para serem apreciados em sessão extraordinária entre quinta (30) e sexta-feira (31). Até a análise final das proposições, a prefeitura espera manter o atual preço da passagem, impedindo o reajuste de R$ 0,50 pedido pelas empresas de ônibus da cidade.

“A proposta do prefeito (Nelson Marchezan) é que não esperássemos recursos federais e criássemos medidas que pudessem servir de exemplo a outros municípios. Fazer o que está ao nosso alcance, não transferir a responsabilidade”, explicou o secretário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre, Rodrigo Tortoriello, ao portal de notícias GaúchaZH.

Segundo a prefeitura, se aprovado, o projeto “Transporte Cidadão”, como foi batizado o pacote, vai beneficiar 562.058 pessoas (o que representa 38% da população da capital gaúcha). É o caso da diarista Rosa Machado, 36 anos, que gasta, diariamente, R$ 18,80 para cumprir sua jornada de trabalho, de segunda a sábado.

São duas conduções para ir e outras duas para voltar, comprometendo uma quantia significativa do orçamento da trabalhadora. “Eu gasto quase R$ 500 por mês só com passagem. Se eu repassar para o valor da diária esse gasto, as patroas reclamam e muitas até deixam de me chamar para o serviço. Se a passagem aumentar para R$ 5,20, vão ser mais de R$ 540. Com esse dinheiro eu poderia voltar a estudar”, diz Rosa.

Com o “Transporte Cidadão”, Rosa e usuários em geral terão assegurada uma tarifa abaixo de R$ 2 graças à Taxa de Mobilidade Urbana (TMU), prevista no projeto. Também a partir da proposta, estudantes pagariam uma tarifa menor que R$ 1 e trabalhadores com carteira assinada teriam passe livre no modal.

Ainda de acordo o projeto de lei, a TMU seria cobrada das empresas por empregado celetista. O valor cobrado, que não está estipulado no texto, é dos pontos de maior polêmica no projeto.

Além do impacto financeiro positivo para o cidadão que já usa o sistema de transporte público, a prefeitura também destaca que a ideia é estimular os trabalhadores que se deslocam de carro a usar o transporte coletivo, já que todos terão acesso ao passe livre.

 

OUTRAS PROPOSTAS

Considerando a crescente perda de usuários frente à concorrência dos aplicativos de transporte de passageiros, o “Transporte Cidadão” também contempla um projeto para instituição da "Tarifa de Uso do Sistema Viário". Hoje, em Porto Alegre, circulam cerca de 25 mil veículos credenciados para o serviço que, para circularem na cidade, terão que pagar R$ 0,28 por km rodado, conforme dados relativos às corridas.

Ainda entre as taxações, Porto Alegre propõe para o financiamento do custeio do transporte público coletivo a “Tarifa de congestionamento urbano”, uma espécie de pedágio a ser pago pelos veículos emplacados fora da cidade para entrar na capital. A tarifa seria R$ 4,70 e vigoraria de segunda a sexta-feira. Nova Iorque, Santiago, Londres, Estocolmo e Milão são algumas das cidades que já implementaram medida semelhante.

Redução gradual de cobradores em dias de passe livre, domingos e feriados, das 22h às 4h, diariamente, e nas linhas com número reduzido de passageiros e o fim da taxa de gestão da Câmara de Compensação (CCT) fecham o pacote de medidas.


PARA MOTIVAR

Atuante no tema da mobilidade urbana, a FNP já trabalhou em alternativas estruturante para o financiamento do setor e defendeu a instituição da Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (Cide) Verde. Em essência, seria uma medida que, por meio do subsídio cruzado, o usuário do automóvel auxiliasse o financiamento do transporte público. O Regime Especial de Incentivos para o Transporte Coletivo Urbano e Metropolitano de Passageiros (REITUP) também já foi tema de debates promovidos pela entidade.